A indústria farmacêutica tem investido, ao longo dos anos, em uma infinidade de recursos para prolongar a vida sexual de idosos. No entanto, a resistência quanto ao uso do preservativo durante as relações sexuais resultou em um dado preocupante: de 2014 para 2015, o número de pessoas com mais de 60 anos infectadas por HIV – vírus causador da Aids – cresceu cerca de 29% em todo o país.
O aumento não resume-se apenas aos casos de infectados por HIV. De acordo com registros do Ministério da Saúde, no mesmo período, o número de pessoas com mais de 50 anos que adquiriu sífilis subiu 28%.
Em alguns municípios da Bahia, os registros de doenças sexualmente transmissíveis (DST) em idosos também têm sido crescentes, segundo a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Em 2016, foram registrados 28 casos de sífilis em pessoas com mais de 50 anos em Feira de Santana e, até outubro de 2017, já foram contabilizados 36 casos da doença.
Os registros de herpes em idosos na cidade dobraram: cresceu de sete casos, em 2016, para 14 em 2017. Em Vitória da Conquista, os números de ocorrências da mesma doença duplicaram de três para seis casos. Em Candeias, a infecção por HIV aumentou de um caso, no ano passado, para cinco, registrados até outubro de 2017.
286 Casos de HIV em idosos foram registrados na Bahia em 2016. Na capital, foram registradas 122 ocorrências da infecção pelo vírus causador da Aids.
Além da resistência ao uso de preservativo, o Ministério da Saúde também atribui a alta das ocorrências de DSTs em idosos a uma questão cultural: “As pessoas que, hoje, estão na terceira idade, iniciaram a vida sexual num contexto em que não existia a Aids, por exemplo. Elas não tiveram o hábito de usar o preservativo e não se reconhecem como um grupo vulnerável”, informou o órgão, por meio de nota.
Em relação à sífilis, o MS esclarece que o Brasil apresentou, nos últimos anos, melhoria da vigilância epidemiológica, com incremento de testagem e da notificação. “Estes fatores devem ser considerados ao se analisar os dados de crescimento registrado da doença. Em 2014, a sífilis adquirida em adultos passou a ser de notificação compulsória para fins de vigilância na rede de saúde. Portanto, a melhoria da vigilância resultou em um maior número de casos notificados”.
Tabu
Se há resistência quanto ao simples uso de preservativo, tratar sobre temas que envolvem sexualidade com este público é um desafio para médicos e especialistas. A geriatra Ana Paula Medeiros afirma que o fato de o sexo ser um tabu entre os idosos, dificulta não só a prevenção de DSTs, mas também o diagnóstico e, consequentemente, o tratamento.
“Os pacientes, sobretudo os mais velhos, têm dificuldades de falar abertamente sobre qualquer problema que envolva a sexualidade. Muitos deles, principalmente as mulheres, até omitem que ainda são sexualmente ativas”, contou.
Para os homens idosos, a omissão sobre a vida sexual pode ser ainda mais perigosa, sobretudo para aqueles que fazem uso de medicamentos para disfunção erétil sem prescrição e orientação médica.
“Remédios para impotência sexual que são comercializados ilegalmente não têm eficácia comprovada. Além disso, mesmo os prescritos, tomados de forma indiscriminada, podem trazer efeitos colaterais graves. Já se tem notícias de pessoas que sofreram um acidente vascular cerebral ou parada cardíaca após o uso desses remédios que são, na maioria das vezes, vasodilatadores, ou seja, facilitam a abertura dos vasos sanguíneos do corpo”, explicou.
O acesso ao atendimento médico e a construção de uma relação de confiança com os profissionais de saúde, segundo a especialista, pode ser a solução para a reverter o aumento do número de casos de DSTs entre pessoas da terceira idade.
“É importante que o paciente busque um profissional de confiança e que relate qualquer tipo de problema que possa interferir na saúde. Não cabe ao médico julgá-lo, mas diagnosticá-lo para buscar o melhor tratamento”, afirmou.
Prevenção
De acordo com o Ministério da Saúde, apesar do crescimento do número de registros de DSTs em idosos, o foco das campanhas de incentivo ao uso de camisinha tem sido a população jovem, pois são, ainda, os que apresentam dados de maior crescimento de infecção por DSTs, segundo os dados epidemiológicos.
“Destaca-se o aumento [da detecção de HIV] em jovens de 15 a 24 anos, sendo que entre 2006 e 2015, a taxa entre aqueles com 15 e 19 anos mais que triplicou, passando de 2,4 para 6,9 casos a cada 100 mil habitantes. Entre os jovens de 20 a 24 anos, a taxa dobrou, passando de 15,9 para 33,1 casos a cada 100 mil habitantes”, informou o órgão.
Entretanto, o Ministério da Saúde afirma, ainda em nota, que as infecções sexualmente transmissíveis entre idosos têm sido motivo de preocupação. “Ao longo dos anos, o Ministério da Saúde tem realizado ações na prevenção do HIV e sífilis entre pessoas na faixa etária acima de 50 anos”.
Fonte: A Tarde