O jovem Misael Pereira Olair, de 19 anos, preso por matar a estudante Raphaella Noviski, de 16, dentro de uma escola pública, prestou um novo depoimento à Polícia Civil nesta quarta-feira (8). Ele disse que entrou em depressão porque nutria um amor não correspondido pela vítima. Relatou ainda que há conheceu há quase cinco anos e, desde então, era “fascinado” por ela.
“Eu entrei numa depressão que não dormia mais à noite, trocava a noite pelo dia. Eu estava com muito ódio, tinha fome e de resto não tinha mais nada. Acho que minha vida girava em torno dela. Teve época que esqueci, mas tinha que ter procurado ajuda profissional”, disse em depoimento à delegada Rafaela Azzi, responsável pelo caso.
O rapaz disse ainda que, em outubro do ano passado, quando ainda estudava no mesmo colégio, decidiu sair porque havia sido rejeitado por Raphaella. Desde então, ele começou a planejar o crime.
“Todo mundo achou estranho [minha saída]. Já saí com ódio e vontade de matar. A professora ligou pra eu voltar, para eu passar de ano, falei que não voltava por uma pessoa que odeio e não queria ir para o colégio. Ela começou especular, quem é essa pessoa,” relatou.
O interrogatório durou pouco mais de 1h e, segundo a delegada, tinha o intuito de “pormenorizar os fatos”. Segundo ela, as declarações esclareceram vários pontos. “Trouxe mais elementos em relação ao armamento, contou toda a empreitada criminosa, e a questão de trazer a lume esse quadro depressivo”, relatou.
A partir do depoimento, a delegada solicitará um exame psicológico. “Pelo relato depressivo dele que antecede a prática criminosa e a premeditação, vou solicitar o exame ao Instituto de Criminalística”, explicou.
A Polícia Civil tem 30 dias para concluir o inquérito. Devem ser feitas novas diligências e colhidos novos depoimentos, como da diretora, professoras e colegas de sala.
Primeiro depoimento
Este é o segundo depoimento do jovem à polícia. Na última segunda-feira (6), dia do crime, ele também prestou declarações. Na ocasição, de acordo com a delegada, afirmou que efetuou vários tiros- ele disse ter feito 11 disparos – para que a vítima “não sentisse dor”
Antes disso, a polícia gravou um vídeo questionando o rapaz sobre o crime. Nas imagens, ele diz que matou a garota porque a odiava e que não se arrependia do assassinato. No entanto, na terça-feira (7), ele aparece em um novo vídeo, com um hematoma no olho, no qual volta atrás: “Tô [arrependido], de verdade” .
O crime foi cometido no Colégio Estadual 13 de Maio, também em Alexânia. Misael é ex-aluno da instituição. Ele pulou o muro da escola e, usando uma máscara, invadiu a sala de aula, disparou várias vezes contra a garota e fugiu em seguida.
Olho roxo
Misael e o comerciante Davi José de Souza, de 49 anos, que o ajudou na fuga e é considerado pela polícia como seu comparsa, tiveram as prisões mantidas durante audiência de custódia realizada na terça-feira.
Na ocasição, Misael apresentava um machucado no logo abaixo do olho esquerdo, o qual estava bastante roxo. A delegada afirmou que o machucado foi provocado devido a uma queda no banheiro do presídio. “Ele disse que tinha caído porque a a luz é pouca”, explica.
Após a audiência de custódia, o advogado de Misael, Joel Pires Lima, deu a mesma versão para o olho roxo e disse que ele “bateu o rosto na parede” do banheiro do presídio.
O juiz que presidiu a sessão, Leonardo Bordini, afirmou que Misael, de fato, relatou ter caído. Como ele alegou um acidente, por enquanto, não será aberto nenhum procedimento. “Posso determinar a abertura do inquérito para apurar as circunstâncias, mas, a princípio, as informações que ele citou são suficientes”, afirmou o magistrado.
‘Tímido e reservado’
Vizinhos de Misael ouvidos pelo G1 definiram o jovem como uma pessoa “tímida e reservada”. Segundo eles, o rapaz vivia com a mãe e uma irmã, no mesmo município. Os moradores contam que estão surpresos com o crime e em saber que o jovem foi preso e confessou o assassinato.
O pedreiro Gleison Pereira Souza, de 42 anos, conta que é amigo das famílias de Raphaella e Misael. Vizinho do autor dos disparos, ele conta que conhece o jovem há mais de dez anos e o considera reservado. “Era calmo, na dele. Ele ficava muito em casa, jogando no computador. Era educado com a gente, sempre respeitou, cumprimentava”, descreveu.
A dona de casa Eleni Xavier de Souza, de 44 anos, disse que ficou sabendo do caso pela filha e demorou a acreditar. “Eu via a foto dele e não acreditava. Ele sempre foi muito calado, ficava dentro de casa, sempre com a mãe. Foi um susto quando ficamos sabendo”, contou.
Fonte: G1