Com o Brasil tendo o maior sistema público de transplantes em todo o mundo e com até 95% dos procedimentos sendo financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), todos os dias, a expectativa por um novo órgão coloca pessoas de diferentes realidades sociais no mesmo contexto.
Embora a expressão ‘fila’ tenha se popularizado, ela não é a melhor definição para o processo. Na verdade, trata-se de uma lista de transplantes, especialmente porque os critérios, na maior parte das vezes, têm a ver com compatibilidade e gravidade, com exceção das córneas (para a córnea, é tempo de chegada, ou seja, é uma fila cronológica. Quem se inscreveu primeiro transplanta primeiro). Os demais órgãos têm critérios específicos. Aquele que é mais compatível passa a ser o primeiro”, explica o coordenador do Sistema Estadual de Transplantes, Eraldo Moura.
Ou seja: para o órgão de um doador X, um paciente pode ser o mais compatível entre todos, sendo, portanto, a primeira escolha. Já para receber o órgão de outro doador Y, esse mesmo paciente pode viver uma situação oposta e ir parar no final da lista, sendo o menos compatível entre os que aguardam.
Na Bahia, onde só são feitos transplantes de rim, fígado e córneas, pouco mais de 3,2 mil pessoas aguardam por um desses órgãos. O transplante de coração está suspenso no estado há dois anos. Atualmente, 58 baianos esperam por um coração, mas para fazer o procedimento em outros estados. Em todo o Brasil, são mais de 65 mil na lista.
Com taxas baixas de doação de órgãos no país, por vezes o paciente não pode mais esperar. Esta semana, a equipe médica que atende o funkeiro MC Marcinho, conhecido pelo hit ‘Glamurosa’ nos anos 2000, decidiu retirá-lo da lista de transplante cardíaco porque o músico teve uma infecção generalizada. Em estado crítico, ele não conseguiria passar pela cirurgia.
Por que essa lista é única?
Os estados têm listas regionais, mas todos estão conectados a esse sistema nacional onde há uma lista única para todo o país. Precisa ser feito dessa forma para garantir que não vai existir nenhum favorecimento de um paciente ou outro e que todos terão as mesmas chances.
Como é o financiamento?
Mesmo nos hospitais privados, o mais provável é que um transplante seja financiado pelo SUS. Isso acontece porque mesmo que o paciente tenha plano de saúde que custeie procedimentos, o transplante ainda vai ser regulado pelo sistema público.
É o SUS quem coordena o processo, além de credenciar e vistoriar as unidades. “Estando no hospital particular ou não, o processo é gerido pelo SUS e isso não vai ter ônus para o paciente”, acrescenta o médico Pedro Carvalho Diniz.
Existem casos de transplantes feitos de forma particular ou por meio de convênio, mas esses casos oscilam entre 5% e 10% dos processos. A maioria dos planos não cobre transplantes e apenas os procedimentos de córnea, rim, medula e fígado fazem parte do rol de coberturas obrigatórias da Agência Nacional de Saúde Suplementar, que regula os convênios. O último a ser incluído foi o de fígado, no ano passado.
Quanto custa?
O valor repassado pelo SUS a um hospital por um transplante é o mesmo, independente de ser público ou privado. Enquanto um transplante de córnea custa pouco mais de R$ 4 mil – sendo R$ 2.070 o total ambulatorial e R$ 2.070 o total hospitalar -, o de fígado pode chegar a R$ 68,8 mil.
O repasse para um transplante de coração é de R$ 37 mil, enquanto o de pâncreas é de R$ 38 mil e o pulmão unilateral é de R$ 44,4 mil. Para um transplante de pulmonar bilateral, o valor é de R$ 64,4 mil, ao passo que o renal vai de R$ 21,2 mil (doador vivo) a R$ 27,6 mil (doador falecido). Quando o paciente precisa transplantar rim e pâncreas simultaneamente, o total repassado é de R$ 54,9 mil, de acordo com a tabela do SUS para 2023.
Quanto tempo um órgão pode ficar fora do corpo?
Esse intervalo é chamado de tempo de isquemia e varia de acordo com cada órgão. Enquanto um rim pode chegar a 36 horas – o que permite viagens entre os estados brasileiros – um fígado não pode passar de oito horas. Já o tempo máximo de espera do coração, caso de Faustão, é de quatro horas.
Qual é o tamanho da lista de transplantes hoje?
Segundo o Ministério da Saúde, 65 mil pessoas estão na lista atualmente, em todo o país. A maior parte delas – 36,7 mil – aguarda por um rim.
Fonte: Correio da Bahia