O Vaticano emitiu, nesta segunda-feira, 8/4, um novo texto no qual denuncia o aborto e a “teoria de gênero”, afirmando que qualquer cirurgia para mudança de sexo corre o risco de ameaçar a “dignidade única” de uma pessoa. O documento, intitulado “Dignidade Infinita”, foi assinado e aprovado pelo Papa Francisco. Ele disserta sobre o que descreve como uma série de ameaças à dignidade humana, incluindo pobreza, pena de morte, guerra, morte assistida e abuso sexual.
“Qualquer intervenção de mudança de sexo, como regra, corre o risco de ameaçar a dignidade única que a pessoa recebeu desde o momento da concepção”, diz o texto, concluindo que tentativas de “obscurecer a diferença sexual entre homem e mulher” devem ser rejeitadas. A Igreja ressaltou, porém, que pessoas LGBTQIAP+ devem ser respeitadas, denunciando que, “em alguns lugares, muitas são presas, torturadas e até privadas do bem da vida apenas por sua orientação sexual”.
O Papa já havia se manifestado contra a “ideologia de gênero” no passado, afirmando que ela busca apagar as distinções entre homens e mulheres. Agora, o mais recente documento afirma que a teoria de gênero “pretende negar a maior diferença possível que existe entre os seres vivos: a diferença sexual”, que seria “a mais bela e poderosa delas”. O texto emitido nesta segunda-feira pontua, no entanto, que a intervenção médica é permitida em casos de “anormalidades genitais”.
Por outro lado, o Papa também ofereceu apoio pastoral aos católicos transgêneros. O pontífice esteve regularmente com um grupo de fiéis trans, que foi convidado para um almoço no Vaticano ao lado de 1.200 pessoas marginalizadas – e recebeu lugares na primeira fila em uma das audiências. O escritório de doutrina do Vaticano permitiu, ainda, que pessoas trans atuem como padrinhos em batismos e testemunhas em casamentos, mudança de uma decisão de 2015.
Cinco anos de trabalho
Com quase 20 páginas, o documento pode ser lido como uma forma de apaziguar as divisões dentro da Igreja, quatro meses após o escândalo em torno da instauração de bênçãos para casais homoafetivos, especialmente entre os mais conservadores. O texto aborda os temas-chave do pontificado de Jorge Bergoglio, como a guerra, os direitos dos migrantes, a pobreza, a ecologia e a justiça social, além de outras questões bioéticas ou relacionadas à violência na internet.
Sobre o aborto, o escrito reitera o que o pontífice já havia dito no passado: que a “defesa da vida não nascida está ligada à defesa dos direitos humanos”. O documento também aborda a barriga de aluguel, que “viola” a dignidade da criança e da mulher e entra em “contradição com a dignidade fundamental de cada ser humano”. Além disso, “a aceitação do aborto na mentalidade, nos costumes e na própria lei” reflete, segundo o texto, “uma crise de moralidade muito perigosa”.
O texto, resultado de cinco anos de trabalho, foi publicado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, órgão da Santa Sé encarregado do dogma que lista casos de “violações concretas e graves” da dignidade.